Abracei a solidão que fez em mim morada.
Contei-lhe difíceis segredos, difusos receios, desejos.
Em troca, só o silêncio deste sertão que é ser tão só.
Mês: junho 2022
Maria
Havia sobre ela qualquer coisa não dita que gritava, e que a impelia contra a parede. Era o mais perto de um abraço que teria. O desespero. Ampararia, enfim, o chão os seus cacos? Com sorte, ele levaria dois dias para voltar. Quando voltasse, ela sabia, juntaria todos os seus pedaços só para novamente ouvir o baque surdo daquele corpo que, há anos, ele estilhaçava.
Ausência
Mergulhada na escuta do que verbalizavas, esqueci-me de perceber, em teus silêncios, tua ausência. Inventei para ela uma frequência confusa do que era, somente, meu desejo; hoje deserto.
Pedaço de mim
– É exatamente isto, meu filho. É ver você sair às pressas e sufocar a minha espera do amor que pari e que partiu. Restou-me assistir à passagem, às marcas, às rugas do tempo. Restou-me. Já não resto mais.